domingo, julho 05, 2009

Historiografia em Poesia

Quem não tem aquele compromisso acadêmico com a historiografia , por não ser historiador, pode com mais liberdade e positiva anarquia PENSAR a história do Brasil de modo mais direto e contundente.
Algumas das reflexões poéticas de José Paulo Paes (1926-1998) sobre a história do Brasil:

Ode Prévia

História pastora
dos alfarrábios
Meretriz do rei
Matrona do sábio

Lépida menina
Múmia astuciosa,
Miasma de esgoto
Perfume de rosa

Banco de escola
Enfado, surpresa
Álcool juvenil,
Pão de madureza

Histriã do rico
Madrasta do pobre
Copo de vinagre
Moeda de cobre.

Estrela da manhã
Mapa ainda obscuro.
História, mãe e esposa
De todo o futuro.


A Mão-de-Obra

São bons de porte e finos de feição
E logo sabe o que se lhes ensina,
Mas têm o grave defeito de ser livres.

A Independência

Não te vi do Ipiranga, esse riacho
De nenhuma importância fluvial,
Mas do teu povo o brado retumbante
muitas vezes ouvi o carnaval.

O sol da liberdade, felizmente,
Sempre em teu céu brilhou e em nosso peito.
Porém, se da justiça a clava forte
For preciso afinal, damos um jeito.

Se preferes dormir em berço esplêndido,
É teu gosto e prazer. Ninguém tem nada
Com isso. Dorme impávida. Ademais,
Antes pátria dormida que roubada.

Adormecida ou não, que meu amor
Por ti sempre constante te ressalve.
E, aninhado em teu seio, grite: - "Pátria
Amada , idolatrada, salve , salve".


O Segundo Império

Sejamos , na cozinha escravocratas,
Mas abolicionistas de salão:
A dubiedade é-nos virtude grata.

Com ela se garante um bom quinhão
Dessa imortalidade compulsória
Que é justiça de Deus na voz da História.


Proclamação da República

Vamos passear na floresta
Enquanto D.Pedro não vem
D.Pedro é um rei filósofo
Que não faz mal a ninguém.

Vamos sair a cavalo
Pacíficos , desarmados
A ordem acima de tudo,
Como convém a um soldado

Vamos fazer a República
Sem barulho, sem litígio
Sem nenhuma guilhotina
Sem qualquer barrete frígio.

Vamos com farda de gala,
Proclamar os tempos novos
Mas cautelosos, furtivos
Para não acordar o povo.


A MARCHA DAS UTOPIAS
não era esta a independência que eu sonhava
não era esta a república que eu sonhava
não era este o socialismo que eu sonhava
não era este o apocalipse que eu sonhava.


in HISTÓRIAS DO BRASIL , de José Paulo Paes, Global Editora , 2006.

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