segunda-feira, janeiro 16, 2012

SEM SOL (Sans Soleil , Chris Marker , 1983)


Aproveitando a coincidência do nome do filme traduzir o clima em São Paulo nesse verão, SEM SOL, dei de assistí-lo.
Férias é tão bom , pode-se ver filmes que rotineiramente não teríamos espírito para eles. Uma experiência como esta precisa de “espaço” da alma de quem assiste, e uma dose de boa vontade para chegar até a última cena.
 No filme , uma mulher lê e comenta cartas que recebe de um amigo fotógrafo que percorre o mundo, com reflexões sobre tempo e memória expressas em palavras e imagens de lugares como Japão e África, "dois pólos extremos da sobrevivência humana" ( segundo a resenha do blog http://setimoprojetor.blogspot.com/2010/04/sem-sol-chris-marker-1983.html ) . Porém , África ou Japão , o foco do filme é o mundo , o pós-moderno : expressões culturais , civilizações e degradações construídas pela história humana no planeta. . Uma antropologia de impressões sobre imagens/memórias de outros ( o filme é feito sobretudo de recortes feitos por Chris Marker de outros filmes não realizados por ele ).
Um filme feito de fragmentos de imagens e memórias visuais de filmes alheios , narrativa não-linear e dialética, repetitiva e cansativa, que incomodam mas se esgotam em si mesmas ( pois tendem a representar "nada") . O texto, porém, dito em única voz feminina, é mesmo o melhor. Poética e reflexiva, a narração faz o filme valer a pena.

Sobre as cenas de Guiné-Bissau e Cabo Verde, reflete a narração :


Imagem extraída de http://uapiti.javiergamboa.info/uapiti/?photo=chris-marker-sans-soleil-3

“ É um povo de errantes, de navegantes ...de viajantes pelo mundo. Formou-se da mestiçagem , nestes rochedos, pausa dos portugueses entre as colônias. Povo do nada , povo do vazio, povo vertical.”


Sobre a luta anti-colonialista do povo da Guiné e Cabo Verde , na década de 80:

“ E sob cada um desses rostos, uma memória. E onde se gostaria que houvesse uma memória coletiva há mil memórias de homens que desfilam suas feridas pessoais na grande ferida da História.” , “ As lendas nascem da necessidade de decifrar o indecifrável. As memórias devem contentar-se de seu delírio , de sua falta de rumo.”


 Um "nada" humano , profundamente humano.

Imagem extraída de http://mnemospace.blogspot.com/2011/03/chris-marker-memorias-dos-tempos-parte.html http://uapiti.javiergamboa.info/uapiti/?photo=chris-marker-sans-soleil-3


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