segunda-feira, julho 20, 2009

"O CASO DA CABEÇADA INVOLUNTÁRIA", de Ariano Suassuna


FOLHETO XXXVIII

"Essa história da denúncia de que fui vítima merece, aliás uma ligeira referência. Tudo começara com uma briga literária. Eu para falar a verdade, nunca julgara que meus inocentes fumos monárquicos fizessem inveja a ninguém. Julgava-me eu mesmo apagado e despercebido (...) Para me destruir , começou a espalhar em nossas rodas intelectuais sertanejas que eu era simplesmente "um homem inteligente, um ex-seminarista esperto e um charadista", mas nunca um verdadeiro Poeta , isto é, "um homem lúcido, culto, de perfeito acordo com as idéias de seu tempo", coisa que, a seu ver, minha condição de Astrólogo e redator de charadas impedia. O plano dele era evidente, queria provar que eu não era poeta, porque provado isso não podia ser o "poeta nacional brasileiro".

Eu experimentado desde muito cedo nas emboscadas e armadilhas da vida literária sertaneja (...) Como sei que essa gente só lê coisas curtas - a não ser que as longas tenham certos encantos, como a putaria - o primeiro epigrama que publiquei contra o escrevente tinha apenas quatro versos (...). Era o seguinte:
'Esse homem vai terminar
bebendo a amarga Cicuta:
não por ser um novo Sócrates
mas por ser filho espiritual do distinto escritor grego'

Minha obrinha fez sucesso entre os desocupados da rua (...) "

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pág 189 , FOLHETO XXXVIII - "Romance d´A PEDRA DO REINO e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta", de Ariano Suassuna, Livraria José Olympio Editôra, Rio de Janeiro, 1971.

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O personagem principal , Quaderna , um "monarquista de esquerda" ( como se auto-declara o personagem) é a referência a uma espécie de contradição híbrida entre Dom Quixote, Antonio Conselheiro e outros supostos heróis ou anti-heróis (?) sertanejos, brasileiros e ibéricos . Na busca de construção de um personagem catalizador do espírito identitário do povo brasileiro, Suassuna não gosta de associar Quaderna ao "Macunaíma" de Mario de Andrade. Justifica que Quaderna é cheio de caráter e boas intenções. Neste episódio , Quaderna está em confronto e disputa com um escrevente de cartório, por uma posição literária no jornal local e no vilarejo. Certamente é um dos menores episódios, dentre os vários, os quais experimenta o personagem no decorrer do LONGO livro, que tem ilustrações (xilogravuras) divinas do próprio Suassuna.

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Ariano Suassuna explica nesta entrevista dada a Folha de São Paulo , em 26 de outubro de 1991, a identidade do personagem Quaderna e sua ego-referência:

Folha - Como é que o sr. se aproximou do monarquismo do ponto de vista intelectual?

Suassuna - Eu vou explicar. A minha simpatia pelo regime monárquico começou muito cedo na infância, através da influência de um tio meu, Joaquim Duarte Dantas, monarquista e católico. Ele lia para mim trechos e mais trechos de um livro português escrito por um certo Antero de Figueiredo, que hoje está meio fora de moda, mas a quem ele admirava muito. E o livro de Antero era sobre d. Sebastião. Um dos motivos que me levavam para a monarquia era o motivo estético. A monarquia é mais bonita do que a república. Plasticamente, pelo ritual, pela liturgia, por tudo. Então, eu sou um escritor e um artista e eu tenho uma natural atração pela beleza, pelas coisas bonitas. Agora, por outro lado, a própria visão do povo brasileiro é uma visão mais monárquica do que republicana.

entrevista completa em :

http://almanaque.folha.uol.com.br/leituras_16jun00.htm

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