Tenho uma dívida enorme para com os japoneses imigrantes. Eles trouxeram o Budismo Zen para este país do samba-futebol-catolicismo-carnaval. Como é que pôde , eu , uma brasileira , ter-me identificado com coisa tão "atroz" segundo a lógica de nossa cultura cristã , ficar sentada horas a fio diante de uma parede, em meditação !? Hora, para que serve isso?! O "Santo Deus!" que aprendi a chamar nas horas de dúvida e aflição se transformou numa parede , estancou mudo , imóvel e coisificado em minha frente. Depois de anos de prática à frente DELE , "Santo Deus" se tornou TUDO - coisas a que estou ligada ( apegada) , e coisas a que estou ( ilusoriamente) separada. Tudo por causa dos ilustres imigrantes japoneses. Hoje sou zen-budista , vinda de família de tradição católica ( minha mãe era da "Legião de Maria", aquela coisa bem católica irlandesa, e me legou muita fé (!) em meio a tanta diversidade.
Abanando Café - década de 30 - um japonês e um afro-descendente
A todos os Budhas , Bodhisattvas , Mahasattvas , agradeço a vinda do primeiro navio "Kasato Maru" em 1908. Agradeço e peço que nos perdoem os maus-tratos , a exploração do trabalho nas lavouras de café , o preconceito político-racial sofrido durante a Segunda Guerra. Agradeço o exemplo de superação das dificuldades como coisa temporária que é , enquanto rezavam à Grande Compaixão ( Kanzeon) que minimizasse a ignorância dos poderosos. Aos japoneses , minha reverência em agradecimento à religião que hoje pratico. Aprendi com eles um novo, belo e pacífico caminho para minha espiritualidade. Na hora certa , no momento certo , e sem que nenhum dogma me tenha sido ensinado, aprendo a cada dia a aceitar "o assim como é": a VIDA e a MORTE - transformação e impermanência - são o "assim como é".
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Gasshô ( mãos em prece , palma com palma ) a todos os imigrantes japoneses .
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