domingo, dezembro 30, 2007

São Paulo, domingo, 30 de dezembro de 2007 / Folha de São Paulo

FERREIRA GULLAR
O que não leio nos astros
Gostaria de só lembrar coisas boas, como o ursinho branco que comoveu o mundo


NUMA noite de 31 de dezembro, há muitos anos, na casa da família, no Leme, onde passávamos o Réveillon, debrucei-me à janela e olhei o céu. Era meia-noite e brindávamos a passagem do ano. Bebi um gole de champanhe e demorei-me a observar alguns pontos de luz que brilhavam na escuridão cósmica. Eram estrelas? Planetas? De fato era o mesmo céu que outras vezes olhara daquela janela.Não havia ali nenhum sinal de que um novo ano começava. Olhei para a rua, os carros estacionados sob a luz dos postes, nada indicava que algo de especial acontecia. O Ano Novo não começa nem no céu nem no chão, pensei, começa no coração. No coração e na mente das pessoas, porque a vida é inventada. Nós dividimos o tempo em dias, meses, anos e, só por isso, amanhã, dia 31, termina o ano de 2007.

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